quarta-feira, 5 de outubro de 2011

criatura



A vida tem obstáculos, seria imperfeita se não tivesse.
Nós, como humanos que somos, temos a obrigação de os contornar porque possuímos essa tão indispensável capacidade.
Os obstáculos podem ter várias formas: podem ser psicológicos, até físicos, podem ser intelectuais, e os mais comuns, podem ser seres humanos.
Normalmente, nenhum ser humano que é um obstáculo para nos é um bom ser, porque senão, porque seria um obstáculo?
Na minha vida, e felizmente, nunca me tinha deparado com um obstáculo desses. Talvez tenha conhecido as pessoas certas, nas alturas certas. Mas hoje não posso dizer o mesmo.
Obviamente sei que o tenho que ultrapassar, e com bastante desprezo, mas digo-vos, é bastante difícil. E mais ainda se torna quando a pessoa em questão, arranja diversão à minha custa. Isto é: parece que o prato favorito dela é inventar mentiras sobre mim e outra pessoa, mas claro, sempre no intuito prejudicial da coisa.
São obstáculos meus caros...
e destes, nem vale a pena perder tempo nem preocupações.
como diz o povo : reduza-se à sua insignificância, criatura.
“I wanna you to know, that I love the way you laugh.”

Esta talvez não seja a melhor maneira de começar o que tenho para escrever, confesso, mas como puras e verdadeiras que são estas palavras, decidi abrir este texto com tudo o que me vai na cabeça: belas tardes de terça-feira, long time ago, às vezes monótonas, outras vezes, incrivelmente alegres. E com essa alegria vinha o teu sorriso, bonito e sempre, no fundo, meigo.
Regressando à actualidade: deitada na cama, agarrada ao PC, olhos ardentes. Nostalgia e arrependimento, vazio e tantas mais coisas. Enumera-las seria impossível, mas garantido estava que o arrependimento vinha em primeiro lugar.
A sensação de querer dizer tudo ao mesmo tempo está presente em mim. Não prestarei qualquer importância a concordâncias e rigor, regras de escrita e afins. O cerne deste texto é simplesmente o seu transparente conteúdo.
O facto de uma pessoa errar não é significativo, pois “errar é humano”. Compreende-se o erro, mesmo que grave, de um indivíduo, se for o primeiro de nenhum. Mas, se esse mesmo indivíduo, voltar a errar, e cometer o mesmo erro, aí, aí sim temos um caso incompreensível.
Supostamente nós estamos cá para aprender com os nossos erros, e se possível, com a observação dos erros dos que nos rodeiam, na tentativa de não os cometer.
Embora seja uma equação simples da vida, existem pessoas que não a compreendem; que não chegam ao seu resultado, (x = não errar 2 vezes.)
Eu, por exemplo.
Um dia disseram-me que no futuro eu me daria mal, pois eu para suceder bem na vida deveria saber a equação e sua fórmula de cor. Deveria saber que não se cometem os mesmos erros duas, três, quatro vezes. Deveria saber que eu não sei nada. Deveria escutar os outros. Deveria dar atenção aos pormenores da vida, e não ao que está à vista de todos.
O futuro chegou, e estou-me a dar mal: errei mais do que devia, não aprendi, porque estava demasiado ocupada a achar que tinha razão em tudo, a apontar o dedo aos outros. Não escutei, não dei importância aos pormenores.
E agora estou assim, infeliz, arrependida, e sozinha.
Este texto é uma mensagem. Uma mensagem para uma pessoa que foi alvo, o principal alvo, dos meus erros assíduos, que eu automaticamente desculpava pelas “circunstancias”. Eu erro, muito; e a culpa não é das circunstâncias, não é do tempo, não é do cão nem do gato, a culpa é minha, somente.

Julgo já ter aprendido a equação. Só lamento, com imensa pena, que tenha sido preciso perder alguém muito próximo, com um elevado estatuto na minha vida, para a conseguir finalmente entender.
E esta era a mensagem que queria passar.

to lm,

sexta-feira, 17 de junho de 2011

they - unknow end.

Peço desculpa a quem estava a seguir o "they" mas decidi que, após uma leitura e análise aprofundada, não continuarei. Mas também não apagarei os posts.
"...não sofras com paciencia, luta com heroísmo." Camilo Castelo Branco - Amor de Perdição

terça-feira, 14 de junho de 2011

they III

As cartas que ela escrevera tinham um destinatário, e esse era o tal rapaz. Eles não eram simples desconhecidos, pessoas vulgares que viajaram na mesma carruagem de três transportes públicos, não. Eles tinham uma história. Um relacionamento, considerado por ambos muito intensivo, inesquecível porém. Marcas que ficaram desde então, até ao presente actual, causam dores insuportáveis (no caso dela).

Ela iria pegar nelas e desfaze-las. Era uma espécie de metáfora. Talvez assim desfizesse também o seu amor por ele, desaparecesse com ele. Era a única maneira: parar com tudo aquilo, com todas aquelas rotinas que a tornavam prisioneira de um passado mal esquecido.
Levantou-se. Pegou nas cartas. Releu-as.
Andava de um lado para o outro, estava impaciente. Não sabia porque não ganhava coragem para se desfazer delas. “Chega, chega” - murmurava.
Parou! Arregalou os olhos, não queria acreditar! Depois daquela cansativa procura, depois de correr tudo, vasculhar cafés e ruas, perseguições e transportes públicos, depois de três horas de viagem, avistou-a de novo. Parecia inquieta, nervosa. Mesmo estando a uns vinte metros dela, conseguiu visionar as cartas. Ele tinha conhecimento delas, embora desconhecesse o seu conteúdo. Sabia que ela escrevia para ele, mas ele era demasiado fraco e cobarde para pedir que as entregasse; não as queria ler, dizia sofrer ao lê-las. “Flor de estufa” era o que ela pensava dele.
Mas ele naquele dia estava diferente. Tinha tomado consciência de tudo o que tinha feito, tinha ganho a coragem necessária para ela, para lhe dizer tudo que sempre evitou, tudo o que sempre achou “inoportuno”. Não parecia o mesmo rapaz sequer. Transbordava-lhe valentia, bravura pelo peito.
“Aleeeeex” – gritou – “essas cartas pertencem-me!” – e saltou para a areia, correndo em direcção a ela.
No meio dos seus pensamentos, tão repetidos, tão deprimentes, algo lhe rasgou o raciocínio. Enlouquecera de vez! Não poderia crer no que tinha acabado de ouvir.
Num acto repentino e impensado virou-se para trás, e viu-o, viu-o correr sobre a areia, com uma certa dificuldade em sua direcção. Era ele!, empalideceu , o seu coração acelerou (como sempre acontecia cada vez que o via), tremiam-lhe os dedos e o canto inferior do lábio, os seus olhos assimilavam-se a faróis.
E ficou ali, assim.
Só parou quando conseguiu sentir o seu particular e doce cheiro.
Olhou-a nos olhos, com os seu olhar esbugalhado e brilhante, como fazia. Deixou-a estática.
Deu lhe a mão, e sempre sem desviar o olhar dos seus bonitos olhos. Depois de momentos assim ele pronunciou-se.

they II

Sentada na areia, e abraçada por uma certa melancolia, ela mantinha-se serena. Olhava, ainda o mar. Na sua mente, mil e muitos pensamentos pairavam. Uns de saudade, outros de arrependimento, tanto. Mas não se sentia confusa. Era coerente, apesar dos seus devaneios, apesar dos seus momentos débeis, apesar das suas grandes questões.
Sabia, e sabia bem, o que fazer. Andava há tanto tempo a divagar, sem nada fazer, embora soubesse o que era suposto fazer. Só que era difícil; e evita-se sempre o difícil. Contudo, ela iria tomar a decisão que evitou, ia colocar um ponto final na sua situação, que se agravava com o passar dos dias, dos meses, dos anos. Ela sentia-se sufocada, rodeada de elementos fantasmagóricos do passado, que ela própria criava na sua cabeça. “Hoje é o fim.” - Pensava.
Desorientado, o rapaz percorria tudo. Chegou, porém, e já exausto, à grande praia. Esta que estava irreconhecível, para quem só lá foi uma vez ou outra, e no Verão. Deserta, cinzenta, ventosa. Mesmo assim, um instinto o manteve naquele lugar. Continuou a sua procura, caminhando pelo passeio de madeira e contra o furioso vento.
Não perdia a esperança, sabia agora mais do que nunca que a ia encontrar.
Abriu o fecho da sua mala e retirou, com um cuidado excessivo e com muita pena, doze cartas. Foram escritas à mão por ela, durante o passar do tempo. Não eram as típicas cartas de amor que “elas” escrevem. Já nem existem cartas de amor! Ela tinha o coração ferido, era uma verdade, mas as cartas eram meros desabafos. Pousou as cartas na areia e apoiou a cara nos joelhos.
Enquanto ela lia as cartas, uma a uma, lentamente, sem deixar nenhum pormenor escapar, ele, por obra (talvez) dos deuses ou de um ser superior, percorria o caminho certo e cada vez mais se encontrava mais perto do seu almejado destino.

they I

Ele tinha acabado de chegar a Lisboa.
Pela primeira vez em muito tempo, sentiu aquela determinada e notável coragem, que tanto precisava. Tinha tomado uma decisão, e sentia os seus pulmões cheios de garra.
Conseguiu, e com uma particular facilidade, dar com a sua morada.
Dava passos confiantes, notados. Quem o visse diria certamente que era um rapaz com as ideias no lugar, um lutador!
Avistou o lote, aproximou-se.
Mas, antes que se pudesse preparar para tocar a campainha do 1ºDto, algo carregado de emoção o interrompeu: Ouviu um barulho, naturalmente o bater de uma porta. Correu, em pânico, em direcção ao marco do correio, pois não podia ser visto por nenhum suposto vizinho. Escondeu-se. Esperou...viu finalmente alguém; alguém que descia as escadas do prédio. O seu coração assimilava-se a um foguete, prestes a rebentar. Era ela. Era ela que descia as escadas do prédio e que estava pronta para sair.
Ele, que viera por ela, uma vez em nenhuma, e finalmente, que estava convencido da sua total determinação, não ia deixa-la escapar. Mas também não queria falar-lhe já. Demasiado cedo? Quiçá. Demasiado medo? Quiçá!
Decidiu segui-la, até ver onde ela parava. “Decerto que não poderá ir longe” pensou. (como narradora, e como narradora apenas, ela poderia ir a qualquer lugar: longe, muito longe, perto, muito perto...mas ele nunca poderia ter pensado aquilo, porque ele sabe que ela já foi muito longe.)
Ela caminhou até ao metro, sempre seguida por ele. Ele tentava parecer normal, distanciava-se, escondia-se quando ela desconfiada olhava para trás, mas não a perdia de vista.
Apanharam o metro, depois o barco. Estava cada vez mais difícil controlar os seus passos, pois esta já se tinha apercebido que algo não estava normal. Ela era perspicaz, sabia como despista-lo. Só não sabia quem era aquele “homem”que fazia questão de estar na mesma carruagem que ela, e sempre atrás dela, e sempre dependente do actuo dela para fazer também o seu.
Saídos do barco, entraram no autocarro. Ela sentou-se logo no primeiro banco. Estava com medo. Ele percebeu. Sentou-se no último, lá bem no fundo.
A viatura chegou ao seu terminal. Saíram os últimos passageiros, entre os quais, ele, ela. A rapariga saiu muito apressada rumo ao seu destino. Corria. E o rapaz acabou por perde-la. Ficou apenas com o conhecimento da direcção para onde se tinha dirigido. Tinha ido até tão longe, pensava ele, não poderia desistir naquele momento. Continuou, e tentou encontra-la.
Ela estava já sentada, tranquila, até. Pensava que se tinha livrado do “homem” que a seguira. Agora queria desfrutar daquele momento: remexia a areia com os dedos das mãos, quer dum lado do corpo, quer do outro. Fitava o mar, que bramia de tanto furor. O vento varria-lhe os cabelos, e alguma areia, e acariciava-lhe a face. Decidiu descalçar-se, queria remexer a areia também com os dedinhos dos pés.
Para além de querer, e gostar de estar só, naquele cenário de uma praia deserta numa manhã de mau tempo, ela tinha vindo ali porque estava triste.
Continuava, incessantemente à procura do seu paradeiro. Precisava de a encontrar, tinha tanto para lhe dizer. Finalmente, e naquele dia tão carregado de negrura tinha ganho a coragem para o fazer. Era tarde, sim, mas não demasiado. Talvez fosse uma questão de horas, minutos. Se não se apressasse, se não a encontrasse poderia ser tarde, sim.