quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Adamastor

Pensou-se qual a razão, para que ninguém da sua máxima sabedoria técnico-navegadora, conseguiria passar o Cabo das Tormentas. Porque razão não conseguiram elas atravessa-lo, e porquê a imensidão de vidas perdidas a tenta-lo?
Começaram então a ser escutadas, a cada virar de esquina, as falas da opinião pública:
-Cá para mim chegam lá ao rochedo e dão-se com o fim do mundo.
-Pois é, caem no precipício, no fim da linha do horizonte!
-Um buraco, um remoinho!
-Eu cá discordo!! Creio que haja um assombro naquela zona do atlântico que os impede de os continuar.
-Ora pois!, uma espécie de monstro!
-Um monstro dos mares, está claro...
Desde de que me lembro de saber apreciar uma conversa acesa no esplendor do seu diálogo, que oiço a sociedade dizer as maiores atrocidades alguma vez ditas, para justificar algo que desconheciam ser a sua razão.
Ao desconhecido, sempre lhe foi atribuído a maior e mais negra pintura, sendo essa a maneira mais fácil de justificar assim, a ignorância do ser Humano.
O ser Humano não explora, o ser Humano não arrisca, o ser Humano não acredita. O ser Humano limita-se a descriminar, a denegrir e escurecer o que lhe é desconhecido. Este prefere, portanto a solução que lhe parece ser a mais fácil; inventar. Quando não conhece, o ser Humano automaticamente inventa, só para fugir à ignorância. Diz o primeiro pensamento que lhe vem à cabeça, e dele constitui a sua chamada "opinião própria". Opinião própria esta, baseada em nada. Baseada em argumentos criados no momento, que apenas sublinham a maneira como estes ofendem e criticam o que para eles é desconhecido.
Tenho conhecimento, de que este processo que acabei de descrever, apenas acontece devido à exuberante maneira como o ser Humano teme a vida e o que para além dela, ou pelo menos para além do que este não conhece, existe!
Não considero um acto justificável inventar argumentos falsos sobre determinado assunto desconhecido, apenas pelo medo de o conhecer.
O ser Humano deve deixar de criar monstros como Adamastor, só com o intuito de justificar o facto de não possuir a bravura e a coragem sufiente para se garantir que estes não existem!