sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Monólogo


a peça decorre.
depois de relativamente algum tempo em que eu e tu e a nossa história eram o pisar do palco, o avançar das circunstâncias fez-me sair de cena.
estás tu, o palco e a cortina vermelha diante os meus olhos.
estou sentada, e como o habitual, escolhi o lugar onde a minha vista tudo pudesse alcançar.
tenho te observado arduamente durante já algum tempo, e tu vês que eu não te dou espaço; tenho os olhos colados em ti, e dali, não se vão desviar.
de uma maneira geral, até te poderia considerar um bom actor, sem dúvida. Está tudo certo; as falas, os gestos, as atitudes e até mesmo os olhares, onde demonstravas ter mais dificuldade.
aplaudo! rio!
instintivamente, toda a representação pára, acompanhada por uma expressão boquiaberta.
sem alternativa, ponho os olhos no papel que se encontrava no meu colo e anoto a minha primeira e inesperada crítica. Parar a representação no decorrer da peça? (-10)!! porque paraste tu afinal? o conteúdo pode ser dramático, mas a mim, apeteceu me rir.
o teu ar continua boquiaberto e continuas imovél. Então? procegue!! a peça é excelente!
neste impasse, ficamos assim, eu e tu; parados, eu na plateia, e tu no palco. tentas finalmente, conceber o improviso, mas não pega.
recosto-me na cadeira, e observo-te vivamente. estás atordoado, pois pensavas que a peça era tua e que dela, poderias passar-me a ideia de que já não precisavas de mim, para a conseguires interpretar.
mais uma vez, estás enganado.
quem escreveu a peça, fez dela um dueto, não um monologo. como podes tu tentar sozinho?
és um bom actor, repito, mas antes de decorares as falas, já eu as cantava. por isso, pára de me tentar enganar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quadrifólio.

Seu eu dependesse de um minúsculo e perfeito trevo de quatro folhas, delineado apenas para exibir o seu poder simbólico,perante todos os crentes de fantasias e rituais nesta vasta sociedade, muito certamente, faria também parte, dessa imensidão orgânica, composta apenas por um vazio obscuro.
Estou aqui, sentada sobre nada mais nada menos, do que quatro tábuas e oito pregos, todos geometricamente encaixados, de forma a que não sinta o duro cimento que todos pisam. Observo incessantemente o quadrifólio que se encontra estendido e seco, na palma da minha mão.
Olhando para este ser, agora inorgânico, pergunto porquê à sua simbologia. Sorte? Confiaria eu a minha sorte e toda a minha credibilidade num talismã, num objecto? Esperaria eu sentada, neste banco de quatro tábuas e oito pregos, que a sorte me tocasse levemente o rosto e que me fizesse sair de onde eu estou? Que me levasse daqui, de mãos dadas ao destino, sorrindo? Que a sorte, atraída pelo os mistícos poderes do quadrifólio, me puxasse para cima e me devolvesse um milhão de coisas (não materiais) que me foram tiradas?
"Sorte"? acreditam na sorte de um trevo de quatro folhas? Acreditam que por possuir isto ou aquilo, terão mais sorte, sem ponta de esforço?
Sei que a sorte sou eu que a faço. Sei que se não depender me mim, a sorte nunca chegará a tocar o meu rosto. Sei que só eu posso lutar para a alcançar, e que se não for eu, ninguém o fará por mim.
Esta minha teoria, de errado pouco tem.
O meu ponto de situação, de certo pouco tem.
Escrever,ditar, soletrar, dizer ou balbuciar teorias, é fácil. O difícil, é pô-las, em prática.
Ponto de situação; ainda me encontro sentada,no tal banco de quatro tábuas e oito pregos, fitando sem me cansar, o quadrifólio intacto. esperando, que ele, de uma maneira ou de outra, me traga um pouco de sorte e que me apazigue o animo, que estafado está, de lutar para tentar fazer a minha própria sorte.

domingo, 3 de outubro de 2010


Nós escrevemos o nosso caminho.
Nós fazemos a nossa sorte.
Nós lutamos pelas nossas vitórias.
Nós construímos o nosso império.
Nós ultrapassamos as trapecias da vida.
Nós dedicamo-nos a quem amamos.
Eu escrevi, eu fiz, eu lutei, eu construí, eu ultrapassei, e eu dediquei-me.
Pela pessoa que me fez conhecer todos estas minhas capacidades, obrigada.
Di,