terça-feira, 14 de junho de 2011

they I

Ele tinha acabado de chegar a Lisboa.
Pela primeira vez em muito tempo, sentiu aquela determinada e notável coragem, que tanto precisava. Tinha tomado uma decisão, e sentia os seus pulmões cheios de garra.
Conseguiu, e com uma particular facilidade, dar com a sua morada.
Dava passos confiantes, notados. Quem o visse diria certamente que era um rapaz com as ideias no lugar, um lutador!
Avistou o lote, aproximou-se.
Mas, antes que se pudesse preparar para tocar a campainha do 1ºDto, algo carregado de emoção o interrompeu: Ouviu um barulho, naturalmente o bater de uma porta. Correu, em pânico, em direcção ao marco do correio, pois não podia ser visto por nenhum suposto vizinho. Escondeu-se. Esperou...viu finalmente alguém; alguém que descia as escadas do prédio. O seu coração assimilava-se a um foguete, prestes a rebentar. Era ela. Era ela que descia as escadas do prédio e que estava pronta para sair.
Ele, que viera por ela, uma vez em nenhuma, e finalmente, que estava convencido da sua total determinação, não ia deixa-la escapar. Mas também não queria falar-lhe já. Demasiado cedo? Quiçá. Demasiado medo? Quiçá!
Decidiu segui-la, até ver onde ela parava. “Decerto que não poderá ir longe” pensou. (como narradora, e como narradora apenas, ela poderia ir a qualquer lugar: longe, muito longe, perto, muito perto...mas ele nunca poderia ter pensado aquilo, porque ele sabe que ela já foi muito longe.)
Ela caminhou até ao metro, sempre seguida por ele. Ele tentava parecer normal, distanciava-se, escondia-se quando ela desconfiada olhava para trás, mas não a perdia de vista.
Apanharam o metro, depois o barco. Estava cada vez mais difícil controlar os seus passos, pois esta já se tinha apercebido que algo não estava normal. Ela era perspicaz, sabia como despista-lo. Só não sabia quem era aquele “homem”que fazia questão de estar na mesma carruagem que ela, e sempre atrás dela, e sempre dependente do actuo dela para fazer também o seu.
Saídos do barco, entraram no autocarro. Ela sentou-se logo no primeiro banco. Estava com medo. Ele percebeu. Sentou-se no último, lá bem no fundo.
A viatura chegou ao seu terminal. Saíram os últimos passageiros, entre os quais, ele, ela. A rapariga saiu muito apressada rumo ao seu destino. Corria. E o rapaz acabou por perde-la. Ficou apenas com o conhecimento da direcção para onde se tinha dirigido. Tinha ido até tão longe, pensava ele, não poderia desistir naquele momento. Continuou, e tentou encontra-la.
Ela estava já sentada, tranquila, até. Pensava que se tinha livrado do “homem” que a seguira. Agora queria desfrutar daquele momento: remexia a areia com os dedos das mãos, quer dum lado do corpo, quer do outro. Fitava o mar, que bramia de tanto furor. O vento varria-lhe os cabelos, e alguma areia, e acariciava-lhe a face. Decidiu descalçar-se, queria remexer a areia também com os dedinhos dos pés.
Para além de querer, e gostar de estar só, naquele cenário de uma praia deserta numa manhã de mau tempo, ela tinha vindo ali porque estava triste.
Continuava, incessantemente à procura do seu paradeiro. Precisava de a encontrar, tinha tanto para lhe dizer. Finalmente, e naquele dia tão carregado de negrura tinha ganho a coragem para o fazer. Era tarde, sim, mas não demasiado. Talvez fosse uma questão de horas, minutos. Se não se apressasse, se não a encontrasse poderia ser tarde, sim.

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